seis meses entre a vida e a morte
numa enfermaria de hospital
em casa há um mês
entre a morte e a morte.
nos fundos o espelho d’água química
cisma às vezes de se levantar
cloacágulo sanguezal
berçário de ódio
administrado pelas elites
de tanto esperar os bárbaros
bárbaras
de tanto desejá-los e confessar abúlica
e sem culpa sua própria derrota
(trouxeram sanguessugas para a minha sangria?
trouxeram manguessugas para o próprio repasto?)
– quando dá vau
os ratos
enormes arrastam compenetradamente
comboios de corpos humanos e outros restos
– param aqui em casa
às vezes se vão às vezes
não
(talvez numa dessas eu tenha ficado)
às vezes também calha
de subirem cantando direto rumo ao Inferno
no barco bêbado entupidos de crack e sentimentos ínferos
num Faria-Timbó num Acari que deságua
em Malebolge logo abaixo de Meriti
ou sobem em horrendo alarido ao telhado
sentinelas ao abrigo das fardas azuis
que tentam monitorá-los das margens
que é quando a Ordem intervém
atendendo a denúncias atrás de substâncias ilícitas
como o Sol, que descai
mas os trens descarrilando
e um aprazível espocar de fogos
colore a aquarela vespertina a alimentar os jornais de amanhã
das dores das fendas
que latejam
seus pré-órfãos
porque esse parece ser
o destino
Por Roberto Bozzetti.
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Obrigado por postar meu poema, caro Guto. Parabéns pelo blog!
Um abraço do
Roberto Bozzetti